A UNIR do Fantástico: Jornalismo ou propaganda política eleitoral?
O Estado de Rondônia figurou na mídia nacional de forma negativa no final de semana passado, foi como se estivéssemos vivendo um abril despedaçado ao aparecer nos principais noticiários da mídia nacional. Pois, além das notícias da Operação Termópilas que levou para cadeia o presidente da Assembléia Legislativa, deputado estadual Valter Araújo (PTB), mais outros sete deputados estaduais acusados de pertencer a um esquema de receber propinas, funcionários do governo estadual por tráfico de influência e servidores federais do Banco do Brasil por quebra de sigilo bancário. O programa de maior audiência da Rede Globo nas noites de domingo, mostrou uma "matéria" sobre a Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
Não é questão se posicionar a favor de A ou B, e nem muito menos, não se trata de fazer a defesa do atual reitor Januário Amaral ou de exaltar o movimento grevista que é legitimo em suas reivindicações. A questão é: Foi jornalismo ou programa político eleitoral? Diante da tal pergunta levantada, algumas coisas precisam ficar claras! Achei incríveis as cenas levadas ao ar do programa dominical Fantástico da Rede Globo abordando a greve de professores e alunos da UNIR, pois todos os docentes entrevistados são do grupo de oposição ao Reitor. Será que a globo não sabia disso? Por que não entrevistou os dois lados?
Conhecendo bem a realidade dos municípios de Nova Mamoré e Guajará-Mirim, bem como da própria UNIR, a final, morei dois anos na fronteira e nunca deixei de manter os laços afetivos com o lugar, além é claro, de ser professor colaborador do campus da Unir de Guajará-Mirim. Assim, posso afirmar que não houve desvio de recursos na construção do Hotel Escola que está em Guajará-Mirim mostrado nas cenas da matéria jornalística. Ao contrário do que disse o Fantástico, ele não chegou a ser usado, pois é sabido, que o Ministério da Educação não autorizou a continuação do Curso de Administração em Gestão de Ecoturismo. Sendo assim, o não uso ocorreu por falta de planejamento do próprio Ministério da Educação e não por falta de alunos como foi vinculado.
Então é preciso reafirmar que houve maldade na matéria, especulação sem fundamentação dos fatos reais, pois a obra mostrada rapidamente no campus de Guajará-Mirim está em andamento, e não parada como insinuou a matéria. Pois recentemente, o próprio Instituto Federal de Rondônia (IFRO), quis fazer daquelas instalações, um Campus da instituição que é voltada para o ensino tecnológico, e mais uma vez, a burocracia do Ministério da Educação atrapalhou o processo e emperrou a coisa de andar normalmente, deixando de beneficiar quem vive na fronteira e deseja ter uma oportunidade de acesso ao ensino de qualidade e profissionalização, para então ingressar no mercado de trabalho.
O absurdo maior na matéria ficou pela questão de explorar a imagem do "companheiro" do professor Januário. Uma forma de expor a vida pessoal do Reitor de forma preconceituosa, lavá-lo ao vexame e a exposição pública de sua intimidade. A Rede Globo que leva ao ar em seu horário nobre, ou seja, nos principais programas de audiências, o combate massivo aos atos de preconceitos impostos aos homossexuais, o que demonstrou na matéria jornalística do Fantástico expondo ao máximo a vida pessoal e intima do reitor, foi uma apologia a homofobia, ou seja, uma matéria jornalística cunho homofóbica. Entendam como quiser, mais entendo que foi uma apologia a homofobia e pronto! Indo de encontro ao que a Rede Globo prega em seus horários nobres de televisão.
Pois chamo atenção para assistirem a matéria na internet e observarem que foi mostrada uma fotografia tirada num momento informal, onde propositalmente aparece o "companheiro" e ao fundo, quase como uma sombra, o professor Januário Amaral, que hora, exerce o cargo de reitor da Universidade de Rondônia, que a pouco mais de um ano, foi eleito com esmagadora votação de alunos, servidores e professores da UNIR. Assim, digo que não podemos ser ingênuos! Explorou-se sim, a homossexualidade do reitor como forma de coação e assédio. Quem não percebeu isso?
Não entendo porque não mostraram as dificuldades da Unir enquanto Universidade interiorizada, que vem sendo sucateada por um governo Neoliberal disfarçado de socialista? Lembrando, que não é só a UNIR que esta vivendo a falta de recursos por parte do governo Federal, mais muitas outras espalhadas pelo país. Enfim, na minha experiência com propaganda eleitoral, vejo que as eleições de 2012 já estão fazendo efeito. Essa reportagem é a prova disso. Não existe nenhuma diferença entre essa "matéria" e um programa político durante uma campanha. Aliás, o Fantástico encerra a matéria com a fala de um religioso pedindo apuração dos fatos. Seria então, o dualismo entre um reitor "corrupto" e homossexual e um distinto religioso, velhinho e já frágil de saúde (inconscientemente o eleitor se solidariza ao entrevistado) em pleno horário nobre na televisão? Esse bom velhinho esqueceu-se de enxergar que a sua própria instituição religiosa, em sua grande maioria, tem religiosos em posição semelhante ao longo de sua história e não podemos fechar os olhos pra tal fato, o questionamento deve sim, sempre existir.
Pena que poucos estão imunes à alienação provocada pela TV! Ainda bem que existe a universidade pra combater isso! É evidente que o Reitor poderia logo no início do movimento grevista ter se afastado para não atrapalhar todas as investigações, apurações, etc. Mais pêra aí, se afastar para quem assumir? É outra interrogação que devemos fazer à final, estamos tratando da maior instituição de ensino superior do Estado de Rondônia. Mais também não devemos ser incoerentes, pois, se comprovado todas as denúncias, o reitor Januário Amaral deve ser sim, responsabilizado e penalizado pelos possíveis atos que tenha lesado a instituição de ensino em questão. Mas o que deve ser questionado aqui é: por que a principal emissora do país usa da sua audiência para atender determinadas demandas políticas de grupos que só tem o interesse de chegar ao poder? Nesse sentido, eu digo que não podemos esquecer-nos da edição do Jornal Nacional na campanha do Collor em 1989. O resultado nós o conhecemos num passado bem próximo, é só olhar para traz e fazer uma retrospectiva histórica!